terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Contos do Cotidiano Carioca - Renata

Caio não quer mais ficar com Renata, que é maior gata, mas já está na hora de dizer que não rola. E agora, como dizer? Caio se enrola. O pior é que a mulher é um furacão! Quer porque quer e quanto mais ele enrola com a história mais a poderosa insiste na cama. Que drama! Talvez seja isso. É areia demais para o seu caminhão. Toda prosa, essa louca é um excesso para um cara que só queria sossego. Chama o bombeiro pra acalmar o fogo dessa louca! O pobre com sua vontade pouca se desespera. Mas não é pra tanto. - Afinal de contas o que essa bacante tá querendo comigo? Minha carne, não duvido! Corpinho que mamãe nutriu com carinho a base de leite com pêra. Sai fora sua fera! Caio quase se desespera. Mais tranqüilo é o aconchego dos amigos. Passar um dia inteiro passando o tempo com o seu hobby predileto, ao qual todo homem que é homem com homem que é homem tem direito. Enquanto Renata, a gata, espera estressa insiste não desiste implica e deixa tonto tanto que o garoto que não é santo já não güenta de delícia e desespero. “Ai meu Deus!”. É hora de acabar com esse suplício. Mas dizer não pra mulher é tão difícil! Vai que ela fica puta. Desde antes o cara já sente culpa. E aceita seu agrado mas depois fica enjoado e querendo que vá embora. Já está na hora.

Contos do Cotidiano Caroca - Joana

Caio vê Joana com outro cara, mas esconde a careta, afinal de contas, eles não tinham nada. Não seria isso que você faria, meu caro? Caio andava mesmo enjoado de Joana na outra semana... Mas hoje, por algum motivo, lhe veio um desejo! O que havia acontecido? Agora não parava de olhar para aquela delícia de bunda na mão que não era sua. Ele que já tinha passado muito mais que a mão, passava mal com a situação. E não recordava bem do passado... Ah sim, agora se lembrava, daquele domingo de ressaca com os amigos. Joana perguntara pela praia prometia, mas ele só queria cama, não deu sinal de vida. Pois essa noite vai ter sua cama... Sem Joana!

Caio é gato, descolado, expert, como quase todo carioca, na arte de mostrar os dentes, e dizer que está tudo bem. E com o tempo, de tanto tudo bem, já nem tenta, sei lá, tanto faz, não sente nada diferente. Vez por outra dá gastrite, azia de vida vazia, vontade de viajar pra nunca mais voltar. Mas uma coisa não tem nada a ver com a outra. Fulana que nem Joana tem de monte pra chamar de bem. E é sempre o mesmo nhém nhém nhém de mulher, que sempre quer quer quer. Vem? Não vem. Tem? Não tem. Como bom intelectual (meio de esquerda) Caio sabe que ciúmes ou arrependimento pega mal. Está tudo bem, afinal de contas, nesse mundo, “ninguém é de ninguém”. Semana que vem no bate papo com Joana, Caio como quem não quer nada, avisa de uma outra festa igual a esta. “To chamando geral”. Só pra provar que tá tudo bem. Se ela der mole, melhor. Mulher pra Caio é tudo igual.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Brinque

Não adianta nem tentar (,) só
Construir um sentido
Para isso

Será poesia
Parentesis entre vírgula?

Eu sei que eu quis
Dizer alguma coisa
Mas essa coisa
Só você vai poder me dizer

Se tentar
me comentar

me comente
coma, minta
alimente
ou pelo menos
brinque

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Na gangorra dos amores e uma concessão

Na gangorra dos amores
Deixo você por cima
Enquanto espero
Com pesar a decisão

Mas você se insiste, leve
No brinquedo, breve
Sigo caminho
Com os pés no chão

Só não esqueça, atento
Ao tombo do tempo
Se me levanto a posição

A gravidade não erra
Cuidado com a queda!


Uma concessão
Mas se você deixar de jogo
E se jogar ao sim - fim do senão
Finda a balança do medo
(cálculo, dúvida, divida, apego)

Quem tanto te cobra?
Tudo sobra, meu nêgo
Esse é tal segredo
(O que não te disseram)

Paga nada quem se entrega
É só cair de si
E se você cair...
Pode deixar que eu pego!

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Entre teus dedos





Entre teus dedos
Entendo Deus
Palavras vans
Nuvem de ais
Se penso paz
Meu corpo pede mais

Aguardo e ardo
Pelas manhãs
Anseios inundam
Segundas segundos
Os seios inflamam

Ama, derrama, chama
Só sossega quando abre
Mãos, braços
Abre as pernas ao cansaço

Não terá sido por isto
Todo o sangue de Cristo?
Sacrifício, sacro ofício
A arte arde em muitos sentidos

Debaixo do meu umbigo
Artesão me dê a mão!
Ah tesão entre teus dedos
Tateia sem manual
Meu corpo cego
Aceita não nega
Entrega sem medo
(Ilustração: Thiago José)


domingo, 9 de outubro de 2011

Ipê a Pablo

Quero fazer com você
O que faz a primavera ao Ipê!




"Te traeré de las montañas flores alegres, copihues,
avellanas oscuras, y cestas silvestres de besos.
Quiero hacer contigo
lo que la primavera hace con los cerezos." (Pablo Neruda)

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Dando sopa (de bandeja)




Garçom, por favor, uma dose de paixão?
Mas fica a questão...
Quem vai pagar a conta?

“ - A senhorita está dando sopa
Mulher tem que se valorizar”

Deu tanto de bandeja
que acabou ficando oca.

E quem se atreve a gostar de dar?
Só a puta, para isso serve!
Puta não sufoca, puta se diverte
E ainda ousa cobrar
o que de graça não se dá.

Ou melhor, só com amor
que é como um boteco lotado
com uma fila do tamanho exato da sua ânsia
(melhor não esperar).

Mas ele pagou a conta
Sem entender
Que que a moça não estava no cardápio
(desculpe essa peça é difícil de encontrar)

A moça:

Se me chama de meu bem, heim?...
Eu sumo!
Não aceito ser bem de consumo!

Chamo, chamo mas ninguém entende
que eu não tenho nada a cobrar.
Se toca no meu celular!
Mas a desculpa “tá sem crédito”...
Eu pago a conta! Da paixão
Pago sem medo
(pois amar é tão bom)!

De chip quadrado
Prefiro desbloqueado
Ora se não faz mal
Abrir a caixa postal!

Enquanto isso (no boteco) ela espera o sinal...

(Mas que sinal que sinal?)
Verde, vermelho, amarelo?
Um apito, um grito da janela?
Quase piro de tanta espera
Não aguardo nem guardo
Pego o telefone e ligo

PERIGO PERIGO!!

Homem:

- Quero meu dinheiro de volta,
Essa mulher sufoca!

Mulher:

- Ora querido, se toca,
Só foco o essencial!

---

A louca deu de sopa
Mas o oco a perigo
Deu perdido no prato principal!

Poesia Papo Reto

Do rolo à ação
Enrolação ou em relação?
Sem discussão
Se envolve e desenvolve
Ou desenrola e vai embora.

Borboletas azuis




I. Do diamante

Porque era belo
Esperou que derretesse
Para que pudesse
Bebê-lo

II. Das Borboletas

Por sorte
Borboletas de blues
o distrairam de tal sina
carregando-o para cima
de suas asas azuis

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Dando pala na Lapa

Ao aniversário de CEP 20.000

Sexta-feira salto alto
Meia calça no asfalto
Passo a passo sigo o alvo
No compasso que me traço

Pressa tanta faz a prece
Toda ânsia que merece
Sai da frente no sentido
Toda gente converge comigo

O Catete atravesso
É a Glória mas não é a Lapa
Onde começa a Lapa?

É quando bate-papo?
Bate perna no boteco
De olho numa ponta
Alguém arrisca um teco

Acho que ando dando
Pala na Lapa
Acho que ando dando pa lá
Dando pala na Lapa
Dando pa lá.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Orfeu é meu



Orfeu é meu
Ao som de jazz se fode mais

Espera que se atira da janela
Ao berros de gaitas que miam na Lapa
Nada flauta
Tudo se completa nela
E não há droga que imite o grito dessa hora
Nem lisérgico que se compare à vertigem do que vejo

Vejo
Que você não suporta o paraíso
Anda atrás do seu contato noutra boca
Tanta vontade pouca, fraco!
Queria ver gritar da minha janela
Eu te desafio: fica, grita, erra!
Só confio em gente que berra

Vai de subversão convencional
Reclamando que a fila do inferno anda devagar
Pois trago notícias de lá:
Eles também tem céu
Igual ao da boca
Mas os ingressos estão esgotados
Ainda aceitam sangue
Mas tem que ser de si
E essa nota você não toca
Faltou cuidado com a gaita e com tudo que importa

Agora,
Os deuses da festa festejam as feridas
Agulhas agudas tecem o fim
O solo do sim no fundo de mim
Ao som de jazz me leva aos céus
Enquanto você sobe o morro em busca de Deus

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Amor dicção

Amor é uma droga... ainda bem que tem uma boca na esquina!
Mas amor polícia pacifica. Passa e fica. Só não levem da minha boca o meu amor bandido.
(Caró Lago e eu)

sexta-feira, 17 de junho de 2011

V. Mimosa


(Ilustração de Thiago José)

Eu como capim, sim
Pode botar
Vinte de mim pra cada touro
To nem aí!

Encurralada
Eu não reclamo
Que sujo o rabo
Na tua lama

Me sento
Sem pressa
Questionamento
Não me interessa
Filosofia?
É só história pra boi dormir
Tô nem aí!

Pode me comer, seu touro
E me arrancar o couro
Que depois de mim, como capim
Virá outra
Vaca louca

Me babo toda
Engulo e cuspo
Sem asco ou ânsia
Pela resposta

E ainda me diz sagrada?
Pois te revelo nas retinas
O segredo é que rumino
E mais nada.

domingo, 12 de junho de 2011

Amor Ator (homenagem ao dia dos namorados)

Tem algum ator desempregado em cena? Pode ser amador...
É que eu estou procurando um amor...
Quer dizer, um ator, pra fazer papel de meu amor na minha peça de teatro.

Porque mulher solteira no Rio de Janeiro não tem que correr atrás
É só se estender na areia praia que tá cheio de tatuí de tanto faz
Homem é que nem biscoito Globo, vai um vem dois por um real atrás do outro...
Não precisa se matar de amor. Olha o Mate, tá na mão!
Beba light ou com limão. O que não falta na cidade querida, é opção!
Tá servida?

Não. Eu não sirvo pra esse papel...
Meu berço não beira mar
Nenhum verso me sai fácil
E o que faço condição
"Amor só com fusão..."
Mas eu amo esse trabalho dou trabalho até na diversão!

Se não tem cenário ensaia debaixo da minha saia
E te aviso: vai ser exaustivo. No improviso, sou exigente!
Só pra chegar na hora h e fazer tudo diferente!
De repente, querido, você é o escolhido...

Que comecem os testes então!

Terça-feira tem Corujão
Não? Não tem problema
A gente pega um cinema
Ou um teatro
Ah... Acha tudo isso saco?
E no bate papo diz que detesta Zé Celso Martinês!
E nem por um decreto chama o velho artista.
Tá certo... Eu desisto. Próximo da lista.

Pois já é quarta
Dia de pelada
Não garoto,
Não, não é no seu quarto
Isso a gente faz depois
É Pelada Poética no Leme!
Não gosta de poesia?
Era isso que eu temia...

E na quinta-sim,
Ratos Di Versos,
Dia de Saraval
Deu preguiça?
Então tchau.


Ih olha lá! É aquele baixinho no fundo do palco. Tocando um instrumento engraçado. O nome eu não sei, não é conhecido, ninguém repara! Tímido, ao microfone quase não fala. Só diz poesia ao pé do ouvido. Atrevido... Tem um pouco mais de trinta e vergonha da careca... (prá tapar usa um chapéu e chamam ele de poeta).

Meu amor ator é torto. Atormentado, atordoado. E eu vou querer saber cada ato de sua história. É um surto que você esconde em segredo? Na infância era de palhaço tinha medo.  Qual é o seu vício? Tem fobia de barata? E se fosse um bicho, será que seria uma vaca?

Ah... Assim eu vou te amar de graça. Por essa loucura não confessa. Só por que fui eu quem descobri um defeito perfeito que eu acho que sou a única mulher do mundo que poderia amar.

Pois ao invés de tanto faz eu faço tanto tanto tanto que um dia eu encontro.
Meu amor ator!

Mas nesse dia santo... ele pegou no sono.
E caiu nos braços de Morfeu... ao invés de cair no meu!

Então eu fui buscar meu amor em sonho
Foi quando corri para ele, risonha...

Mas se o texto não esquecer
E não deixar o improviso acontecer
Se a máscara do teatro vier sem você...

Serve outro!

É isso o que há de mais essencial na busca pelo outro,
É que se não tiver você querido, serve outro!

E se o sonho virar pesadelo
Meu amor de aliança no dedo
Com namorada do lado
Me chamando não de amada mas de outra...

Serve outro!

Outro conto em outro canto
Outro tanto quanto o outro

Serve outro que eu vou amar do mesmo jeito
porque vou descobrir um outro defeito perfeito

E só serve outro porque também eu posso ser outra.
Intérprete
Igual a mim há mil que podem dizer este texto.

É que eu estou procurando um amor
Quer dizer um ator, para fazer papel de meu amor nessa peça
Eu peço. Alguém a quem se possa, de fato, em ato, com tato, amar
É que eu sou uma atriz amadora livre solteira e desempregada
Qual o meu papel na sua história?'
Acho que me cai bem o de namorada!
Esse é meu texto
Essa a peça é o que me resta
Eu aceito o teste!

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Vermelha

Fetiche de cor, amor
Nessa cama, não tem nexo
Minha rima teu reflexo
Frente a face interessa?
Branca, preta, amarela...
Faço verso que espelha
E em silêncio te revelo
Que por dentro, sou vermelha

quinta-feira, 19 de maio de 2011

ME CHAMA

[E ainda tem gente que tem medo do fogo
Eu só temo quando não me chama!]




Pega fogo, lambe tudo
Arde e toca feito flauta
Sopra quente e me acende
Inspira versos, ardentes

Eu me entrego como escrava
Não há medo no que escrevo
Mas o fogo, em segredo
Me revela: ainda é cedo!

Eu só morro quando a musica acabar
Pego fogo
Em amor a confusão
Explodo em palavras secretas
Acende a alma do poeta

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Do fogo

Por que lutar se ele não prende?
Amor é como a gente se rende

Eu me rendo
Entrego o EGO à arte
E ao fim do amar-te, a morte
Do EU – tudo que queria se perdeu

Perdi
Vi ruir
Cri ser eterno...
E agora o que resta? Adeus?

Oh sim há deus, na festa!

O banquete de sempre chama
Aceito, acendo, inflamo
Enquanto nego ao outro
Que contenta com o pouco

Que posso fazer eu
Se meu deus tem ciúmes
quando me verto sem faísca?
Não hei de correr o risco,
de ver morrer sem fricção
minha fogueira, criação.

SOUTO

E ele disse "sou muito SOLTO".
 - Não tem problema, eu também SOUTO!

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Intercâmbio Catumbi

Navegande da Ilha
Cruzeiro 485
A travessa maravilha.

Viajo e vejo
Por isso escrevo
Pessoas e calçadas
Cantos sujos
Garotos ruivos
Moleques pretos
Oficinas, bichos e meninas
Quase putas ou moças com calor
De submissão , nem sinal
Orgulho de quem tem o samba no quintal.

Pode até rir
Mas meu intercâmbio cultural
Passa pelo Catumbi.

Por que sonhar só com o Leblon?
Le bom de mais para ser verdade

Vai querer meu sonho são?

Sono lento, engarrafado.
Cerveja, boteco
Cortiço, sobrado
É querer demais querer tão pouco?
Que nada. Sonho bom é sonho louco!

Intercâmbio Caracol

Foi mal
Não fiz intercâmbio cultural
Então por favor me diz
que é o tal do… Baudelaure
Quem é Baudelaure?
Quem é?

Nunca vi entardecer na França
Não toquei piano em criança
Mas tomo muito sol.

Você conhece o Caracol?

Avenida Brasil
Passarela em espiral
É fila atrás de fila na van pra Copacabana
Senta no banquinho e corta caminho pela maré
No Intercambio - Caracol 
Não se fala em Baudelaure

segunda-feira, 28 de março de 2011

Espera que gera

Essa rainha
O que ela tem que eu não tinha?
Tempo
Criou um templo
Do lado de dentro

Que seu reino seja eterno
Irmã no sangue
Para que meu também o seja
Mesmo que breve

Por enquanto espero
Feito grávida
Que come tempo
Na dobra entre
O lado de fora
E o de dentro

Dona da casa, dona do canto
povo de rua, castelo na lua
Eu não arredo
Do que é belo
Rainha do resto
Meu reino é orquestra
-de acaso, sem maestro

Pois que a espera é passiva?
Não, é ávida.
Vou aprender com a grávida
A espera que gera.
(ou desespera)

sábado, 12 de março de 2011

Vade Retro para a experiência

Não se espante ao descobrir na passista, alguém que pensa
São só palavras, como sempre limitadas
Do lado de dentro da experiência

- Olha o bloco
- Olha a louca
- Como dança! Diz o moço do restaurante

Que não por vontade própria se desloca
A multidão passa e faltam palavras na mesa
Estremecem de beleza a cortina e o assento
Num sopro instante de consentimento

A imagem fala, a letra encareta a brincadeira
O folião repara o estranho e abre os olhos ao contraste:
- Se eles ficam é porque eu passo
Assim se trança a sina: a cidade descortina

Mas a poeta insiste
Em fissura de caneta, precisa falar disto
E mira ao rapaz da bateria: virou bicho!
Só atende por tempo, tom e ritmo
[Como é? Faz tum tum de tão bonito!]

Mas do lado de dentro
Pelo tato se entende
Se toca e agradece
Coletivo, de choque, carece!

Não acredita? Tenta só sambar de ré!
Se samba no pé não sai no tapa
Contato é nossa ordem, primata!

Mas não importa o queo poeta pensa,
Suas palavras não podem tocar a experiência.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Lua cheia de palavras vazias

A lua dá brilho os olhos
De quem contenta em dizer: “é bela”
E nem se lembra da outra face
Metade oculta, que não será nunca
Nem sua, nem de ninguém.

A solidão noturna da lua
Não se dá ao que é são
Você diz lua, ela diz não

Por isso, não invoquemos seu nome em vão
A lua está cheia de palavras vazias
Ela pertence aos que aceitam suas faces, suas fases
Sem restrição

Isso que você sente quando a vê
É só você
Olhando para uma coisa que não é sua
No alívio de saber
Que não há nada que a leve até você

A lua está cheia de elogios ocos
E muito acima dos seus brios e anseios
Ela se cansa dos que a admiram inertes
E só se dá aos que lhe estendem a mão
E aceitam o reflexo do que não são

A lua é espelho no mar escuro
De quem a vê além do ego
O salto urge, não é seguro
A lua eleva a quem se entrega

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O CONTO DO SISO, SÓ DE SACANAGEM

Prefácio de espera

Na sala de espera palavras conhecidas pregadas as vistas: “A arte da vida é fazer da vida uma obra de arte”. Entre Gandhi, alguns segredos e outros dentes, como fazer desse instante arte de espera?

É preciso coragem para entregar o corpo de menina ao saber da medicina. Haja fé para oferecer o dentes aos pais de santos doutores non sense da ciência!

No início era o siso

Para ser mais precisa, assim começa a história: nasce uma heroína mulher entregue aos homens.

A minha direita o doutor dentista deus. A minha esquerda o auxiliar negão e bom de branco. E o fato de que em situações difíceis é inevitável não pensar em sexo que, instrumento divino, dá vida a tudo que tem dente.

Será que eu vou pensar sacanagem até na hora da minha morte ou isso é coisa da idade? E porque o tal dente do juízo foi me nascer logo torto? Cirurgia não pode ser coisa natural, e no tempo dos antigos como era? Só sei que foi assim que Deus fez. É só eu entrar em um hospital que viro logo cristã. E agora esse castigo! Aposto que é punição pelo pecado original! Por isso esse espécie de circuncisão, sacrifício, anjos do bem e do mal odontológico. Juro que não é drama, quem já viu o ato sabe como sangra!

- Aspira aqui, diz o doutor

A mão do negão de canudinho suga tudo, até sentimento. É prá limpar minha baba tarada de boca aberta. Pulso firma no manuseio do treco. Vai doer depois, garanto. Ele só faz isso por causa da santa anestesia, que me ludibria os sentidos. Se não fosse por ela não faziam isso comigo!

- Abra mais a boca.

Opa! E lá vem o negão. Com que parte do corpo ele pressiona meu cotovelo esquerdo? E eu aqui a mercê pensando sacanagem do moço... No entanto, por via das dúvidas, afasto o braço (vai que eu gosto?).

Ruído

E agora o que é isso? Será que é preciso?

A serra elétrica de dente. Excelente! Ainda bem que dr dentista é experiente. (Porque vai que ele erra o buraco!) Mas pra tudo na vida há uma primeira vez. E costuma-se fazer tudo errado nesse caso. Ai se esse homem fura minha língua! Jesus, ilumina as mãos do senhor doutor. Melhor pensar que ele, depois da primeira vez, fez a segunda, a terceira e tem uma filha! Vai chegar em casa hoje jantar estilo comercial de margarina e tudo estará bem. Tem até um cachorro pudle branco... qual seria o nome?

- Tudo bem? Agora você vai sentir um clec, não se assusta. Segura o queixo dela, diz o doutor.

E o negão da encoxada segura o meu queixo como se fosse... E quando será eu vou poder beijar de novo?

- Acabou. Que bonito trabalho!

Feita a arte do doutor. Foi bom pra você? Bem sei que cirurgia de siso é que nem amor. Quando você pensa que acabou, aí é que começa a doer... E ele nem vai ligar, mas a gente se vê. Semana tenho tirar os pontos. Daí eu conto.

Posfácio

Alguém me faz um convite de sorvete?

ps: contribuições involuntárias ou quase isso: Fred Graniço, Caró Lago.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Disco riscado

Paixão é risco
Preciso mudar o disco

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Poema amador

Amor há de ser aquilo que deixa ir
Que se alegra meio triste (é parecido) com partida
Na certeza de que nada na vida será melhor que início de paixão
Desistir do sonho, será de outro, como antes...
Há de ser amor o que aceita em lágrimas
Sem mais objeções – improviso arte vida
Nem começa nesse instante, e já é grande
Nem termina amanhã, mais um mormento!
Amor arde, enquanto é tempo.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Poema de ontem , tatuagem de sempre

Poema de ontem
História de sempre
Que sirva a outra
Em outro tempo.

Poema que entra de gaiato na vida do outro
Pretensão a dela
Fazer parte de uma história eterna.

Não passou da nova conquista de semana passada
Coitada!

Poema queixa
Conselho chavão
Há que se viver o momento
– diz o refrão.

Mas antes que se precipite o julgamento
De tanto faz, garota tonta
Eu aponto a tua estampa
A tal marca que delata

Você também já quis tanto!

A dor que se crava eterna
A bela história concreta
Riscada na carne
Sentido gravado na pele

Ter uma tatuagem, não se engane, é sinal de amor.

E não é só você
Foram tantos tatuados que eu vi ontem...
Também queriam uma história pra contar
Que não terminasse a festa só

Anseios silentes, música visível.
Me comovem tais convites
E renovam minha fé na festa!

Mas minhas tatuagens se transformam todo tempo
Sangram versos de memória dita, não dita, escrita
História transferível a outrem que sirva
Sobre ontem e sempre.

Minha lista de blogs